O Brasil viveu um boom de fintechs na última década. Milhões de pessoas foram incluídas no sistema financeiro com a oferta de contas digitais e, muitas vezes, do primeiro cartão de crédito. Não é à toa que, desse grupo de fintechs, surgiram diversos unicórnios, nome utilizado para classificar as poucas startups que chegam ao valor de mercado de R$ 1 bilhão.
Em um mercado já tão disputado de serviços financeiros digitais, uma coisa chama a atenção. Todos os players desse mercado oferecem soluções individuais, ou seja, cada indivíduo com seu universo financeiro. Mas será que os brasileiros lidam diariamente com contas e despesas sem envolver outras pessoas?
A resposta é não. Os casais, por exemplo, chegam a ter 85% da renda comprometida com despesas e gastos compartilhados. Isso inclui aluguel, supermercado, contas de luz e de água, viagens, despesas com filhos e com os pets. Porém, acreditem se quiser, não existia até 2022 uma conta conjunta digital.
O diagnóstico é da fintech Noh, que lançou seu aplicativo de conta conjunta digital e carteira compartilhada em janeiro de 2022. Antes de chegar ao produto final, a companhia passou oito meses em testes com usuários de diversos perfis. A conclusão é que, entre casais ou pessoas que moram juntas, como em uma república, os gastos do dia a dia são, na verdade, gastos conjuntos. Mas, voltando para a provocação do início, qual fintech ou grande banco oferece hoje uma solução de pagamento coletiva?
Aposto que muitos pensaram na veterana conta conjunta. Mas o fato é que esse produto nunca vingou e teve pouca penetração entre os brasileiros. O custo não é vantajoso e, sem distinguir de quem é cada fatia do dinheiro, a verdade é que a conta conjunta tradicional não permite uma divisão justa das despesas ou uma personalização nas porcentagens pagas por cada um dos envolvidos, nem visibilidade do saldo, extrato e notificações.
E o que o Brasil tem a ver isso? Tudo. No país jeitinho e de múltiplas crises, tudo é feito na base da vaquinha e em todas as classes sociais. Os brasileiros dividem o bolão da Mega-Sena, a compra de papel higiênico em promoção ou a viagem de fim de ano. São situações que nos unem e, ao mesmo tempo, dificultam a hora do rateio. Tudo porque, na hora de pagar, nós ainda usamos um só cartão de crédito ou pagamos um só boleto.
Saiba mais:
- Como usar a Noh? Passo-a-passo
- Perguntas frequentes sobre a Noh
- 5 maneiras de cobrar seus amigos que te devem dinheiro
O Pix é uma das maiores inovações já criadas pelo Banco Central e, junto com o avanço do Open Banking, é terreno fértil para criar a próxima grande experiência em meios de pagamentos. Com a ampla oferta de produtos digitais individuais, chegou a hora de as fintechs oferecerem produtos financeiros que reflitam comportamentos do dia a dia, como gastar em grupo. Quem usar os avanços e soluções regulatórias para resolver essa e outras demandas sairá na frente. Está dada a largada.
*Ana Zucato é CEO e cofundadora da Noh, uma fintech criada para facilitar a divisão de pagamento de despesas compartilhadas.